Tuesday, 1 January 2013

Agora


(Escrito para 2009, 2010, 2011, 2012, 2013...)
Agora que já passou neste segundo
Segundo que não fara viagem de volta
Pois comprou uma passagem de ida
Para o Ontem que longe se encontra

Agora que passa muito rápido
Da o seu lugar para outro momento
Que também se chama Agora
Homônimo sem registro em cartório
Mas registrado nas batidas do relógio de cada oratório

O Agora busca sempre o Amanha
Que escapa-lhe entre os dedos
O Amanha sempre observa o Agora
Buscando os seus proventos

O Ontem, de vez em quando
Tenta voltar de sua viagem sem volta
Regressa quando a Culpa o chama
Comprando-lhe um ticket de primeira classe

Todavia, a Culpa retorna somente quando e convidada pelo Remorso
Mas e despachada quando o Arrependimento bate as portas da Consciência

O problema e a Inconsciência
Que insiste em ficar
Pois acompanhada de Ontem
Insiste em nos anestesiar

O Amanha pode ajudar
Uma vez que os sonhos produz
Entretanto pode atrapalhar
Quando a Ilusão nos seduz

Então prefiro ficar com o Agora
Pois junto com ele esta a Consciência
Que nos convida diariamente
Para desfrutar
Intensamente
E com prudencia
Os diferentes presentes da vida

Guilherme Ferreira

Sunday, 9 December 2012

Arqueologia















Bastou chover um pouco
O barro petrificado amoleceu
Detritos vieram à tona
Artefatos incógnitos
Enterrados em mim

Dei-me a escavar
A descobrir estupefato
O ignorado, o ignóbil
Enterrado por tempos remotos
O Esquecido
E o Desconhecido

Do Esquecido me relembrei
E o Desconhecido
Cuneiforme hieróglifo
Como detetive e arqueólogo
Com muito suor decifrei

Os resquícios deste homem primitivo
Perduram enterrados até uma intempérie
Que desvela o homem novo
Desde este sítio arqueológico
Que se desnuda
Para o nascimento de um novo Eu

Guilherme Ferreira

Monday, 9 January 2012

Compromisso

























Coruja - Pablo Picasso

O que faz um bom devoto?
A intenção oculta
A palavra inscrita
O voto secreto
Ou a ação insólita?

A intenção revelada
Perde a virtude de seu anonimato
Ao cair o véu que lhe cobre
Por palavras escancaradas

A palavra inscrita
Se torna escrita
Quando a conotação se rende 
Em voto denotado

O voto secreto é violado
Ao se rasgarem as palavras
Escritas, inscritas
E todas as subscritas

A ação é insólita
Quando a intenção se mantém oculta
A palavra se mantém inscrita
O voto se mantém secreto
E o devoto de tudo acima
Se torna um atento guardião

Faz de uma intenção
A palavra e o voto
Abnegada ação
Um verdadeiro 
Compromisso

Guilherme Ferreira

Friday, 30 December 2011

Identidade

imagem extraída de: http://hippychick7.deviantart.com/art/Fingerprint-109280947

Ninguém diz tê-la perdido
Acreditando que a carrega na carteira
Que nunca foi fraudada
Ou extraviada


Ledo engano
Não se trata somente de um mero documento
Todavia podemos perdê-la
Fraudá-la, extraviá-la, alterá-la, emprestá-la, roubá-la
Pois ela não é a primeira nem a derradeira


Pior quando não a possuímos
Impropriedade emprestada 
Embargada
Ou desapropriada


Somos grileiros de nós mesmos
Quando não somos de outrem
Ou vítimas de outra grilagem


Furtamos o que não possuímos
Lógico, diz o senso comum
Mas também é contraditório


Não há segunda via 
Para a primeira via que não temos
Não adianta pagar taxa no cartório
Contratar despachante
Procurar nos achados e perdidos 
Pagar fortunas para uma cartomante


Acredito que trata-se daquelas coisas 
Auto-outorgáveis
Intransferíveis
Indeléveis e 
Indelegáveis


Difícil de achar
Definir
Burilar
E manter


Mas quando a encontramos
Não precisamos de comprovação
Firma reconhecida
Ou autenticação


Pois é genuina
Sólida e única
Identidade


Guilherme Ferreira

Monday, 19 December 2011

Voltei



Praticamente um ano em ibernacao
Voltar a escrever esta me dando caimbra
Os dedos, os bracos, cada neuronio que perdeu uma ligacao

Por isso vale um pouco de aquecimento
Erro, acerto e falta de inspiracao
Vale tudo, ate abusar do leitor
Que sente a mesma caimbra
Contagiosa, empatica
E dolorosa paralisacao

O remedio
Ler, escrever, ler, dormir
Apagar, pensar, reconsiderar
Refletir, viver, respirar

Para que escrever?
Parei de pensar sobre isto
Pois me causou esta paralisacao

Decidi que voltarei a escrever para transpirar
Expelir ideias que nao servem mais
Para dar espaco para novas serem inspiradas

Guilherme Ferreira

Sunday, 12 June 2011

Touché

Foto de René Maltête

























Fui golpeado
Não sei por quê
Só sei que fui
E que gostei

No embate de idéias
Em que entrei
Não há vencedor
Mas esgrimistas
Jogando por diversão

Estão em disputa
Sem rivalidade
Com mentes em labuta
Sem dono da verdade

O ponto em questão
Não é contencioso
Nem litigioso
Mas o desejo de pura criação

Desejo que arrebata
Que inspira
Que energiza
Que faz transpirar

É o desejo da arte
Da nova idéia
De fazer
De acontecer
Touché
Isto é 
Co-criação

Guilherme Ferreira

Tuesday, 31 May 2011

Tensão

Photo by Jan Masny

















Um amigo me disse
Que os sons mais belos
São extraídos de cordas em tensão

Hesitei
Pois muita pressão
Pode nos levar a quebrar
A cair
A desfalecer

Todavia acreditei
Quando a tensão operou
Em mim certa vez

Como uma bailarina nas pontas do pés
Um violinista na ponta dos dedos
Um trapezista de ponta-cabeça
Estiquei-me sem romper-me

Percebi que apesar do inevitável incômodo
Esticar-se
Desdobrar-se
Remexer-se
São também outras formas
Das mais simples
De crescer

Guilherme Ferreira

Monday, 23 May 2011

Possibilidades



Se Deus joga dados com o universo
Não sei, talvez nunca venha a saber
Todavia sei e tenho certeza
Das infinitas possibilidades da vida
E de infinitas palavras para este verso

A ansiedade bate forte
Gota por gota como tortura chinesa
Transborda a mente indecisa à deriva
De idéias imprecisas tripulando a cabeça

Nave sem capitania e timão
Vaga à mercê e à toa
Em epifania e contemplação

Alguns nos afirmam sem titubear:
Que tropeçamos nos próprios passos
Que esbarramos em nossos próprios braços
Em livre queda em um abismo sem salvação

Digo não, necessariamente
Pois vagar perdido pelo mundo
Pode ser diferente e importante
Mesmo que devagar

É liberdade indelével e sem lei
De descobrir portos desconhecidos
Onde um dia me ancorarei

Guilherme Ferreira