"After silence that which comes nearest to expressing the inexpressible is music."
- Aldous Huxley
Aventuro-me a traduzir uma citação que talvez seja incapaz de traduzir. Mas a tentativa não custa nada, além de não ser dolorida para um homem não conceituado. Aldous Huxley quis dizer que, além do silêncio, não há nada que se aproxima mais em expressar o inexpressível do que a música. Concordo em gênero, número e grau pois a música, na minha opinião, é a máxima expressão do que é sublime. E o sublime é inexpressível por um simples mortal.
Mais uma vez irei me recorrer ao latim como muleta conceitual. Afinal, não sou conceituado, e suficientemente graduado, para tomar como ponto-de-partida o meu achismo mortal. Sublime vem de sublimis do latim, que significa "olhando desde cima". Como terráqueos estamos submetidos às leis da gravitação. Os pés no chão são uma fatalidade, fato comprovadamente verdadeiro, por mais que digam que não - digo sobre todos aqueles metafísicos de plantão: poetas, filósofos, artistas de qualquer natureza e vocação.
Virtuoso é o homem que consegue sublimar-se. Ver de cima sem o efeito da gravidade. Volitar fora da carne que aprisiona os nossos sentidos - sentir desde cima, sem limites, desde alto, com sentimentos exaltados. Enxergar o que outros não vêem, a vastidão sem precedentes na nossa humana e limitada visão, tato, paladar, olfato e audição.
Portanto, não existe outra reação diante do sublime senão o estupefato silêncio do homem que não tem palavras sequer para uma simples expressão. E a música neste sentido, é pura contradição, pois é sublime e consegue ser o contrário do silêncio, o som e sua magnitude em ação. Todavia, mesmo aqueles mais astutos no uso das palavras, de joelhos ao chão, rendem-se a música sem reação. Sem rumo ou orientação, desesperadamente correm e recorrem ao dicionário que lhes fecha as portas de capa e contra-capa com um assertivo não!
Rachmaninoff é um dos mestres do sublime. Homem que é capaz de desafiar as leis da gravitação, volitar e encontrar sons, inspiração que nenhum outro homem no chão foi capaz de imaginar ou tocar. Este Concerto para Piano e Orquestra no.2, em seu segundo movimento, ajuda-me, em silêncio de boca calada e olhos arregalados, a definir o que vem a ser sublime, a levitar, a voar como se fosse alguém que nunca pisara em terra firme. E, para arrebatar, o concerto é interpretado por Nelson Freire, outro homem como Rachmaninoff que é médium do sublime para nós homens simples, cegos, calados e de pés descalsos calejados pelo chão.
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