Sunday, 6 July 2008

Piano



À minha professora de piano

Inspirar e expirar cada frase

Não há outra forma de sorver a música

E o piano tocar


Muita paciência

Sem exagerar no fortíssimo

Sem ambicionar mais que o virtuose

Tentar acelerar e nas teclas tropeçar


Só tocar o Tico-Tico, sem parar

Exagerar e apanhar do cavaquinho

Uma obsessão pelo tango inexplicável

La Cumparsita, Mi Buenos Aires querido

Mais fortemente a paixão por Adiós Nonino

E ao errar, melhor parar e perguntar


O improviso é de se admirar

Todavia não há música sem o suor

Sem técnica e alma

E o constante praticar


Obrigado professora pelo piano

Por tudo o que ele hoje me oferece

Hoje não sou pianista

Ao menos profissionalmente

Não é tocando que faço o meu ano

Todavia o piano e a música

Fazem de mim um homem diferente


Pois além de tocar um pouquinho

Aprendi a escutar

A você

A mim mesmo

Ao silêncio do outro

A voz do meu próprio coração

Às melodias soltas pelo ar

Mas, principalmente, escutar a minha própria vocação


Fazer da vida uma arte

Sem necessariamente viver dela

Senti-la escrita em mim como em um antigo pergaminho

E escrevê-la a cada momento

Levantando-a

Onde quer que eu vá

Como um porta-estandarte


Guilherme Ferreira

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