Sunday, 10 August 2008

Cor



Uma página em branco
Sentar-se em um banco
Como o pensador de Rodin
Deixar a estória da vida projetar
Passar pela mente como em um ecrã

Curiosíssimo
Pois vejo as memórias em preto-e-branco
Não multi-coloridas no momento que as vivi
A mente engana, monocromática que é
Apaga as cores, as deixam para milissegundos de déjà-vu

O passado então misteriosamente torna-se bicolor, logo após ser presente
O presente sempre é colorido até o ponto onde torna-se passado
A vida, portanto, é policromática quando vivida no agora
O presente seqüestrado pelo passado, quando desperdiçado

Este segundo é uma paleta de cores que não voltam mais
Cabe ao pincel das nossas ações libertarem estas cores
Que são demasiadamente encarceradas pelos medos
E a espontaneidade é a única capaz de nos render da prudência
Nossa algoz e carcereira que nos pinta em tons cinzentos
Cilício de pinceladas em seqüencia

Vale então deixar a mente que nos engana de lado
E pintar com o coração
Libertador
Que dá cor
Cora o viver
Com as cores que só o sentimento pode oferecer

Sentir que só é possível neste segundo
Este momento
Agora
Na ponta da língua
Quando todos os poros estão abertos
Os olhos arregalados
O nariz à espreita
E os ouvidos escancarados

Guilherme Ferreira

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