Alguém sem nome
Estranho, eterno e sem idade
Perdeu a própria identidade
Desconhecido e procurado por ninguém
Foi exilado em seu próprio esconderijo
Invisível aos olhos que a ilusão comeu
Espreita-se em fajuta camuflagem
Foge de si mesmo
Faz-se refém em sua própria casa
Prisão domiciliar de portas abertas e escancaradas
Com sentinelas fracos e desarmados
Procura-se este homem
Reprimido pela própria inconsciência
Réu inocente que foi encarcerado em seu próprio tribunal
Subjulgado e deixado de lado às traças injustas que não podem dissolvê-lo
Não age segundo nenhuma hipócrita conveniência
Bento, purificado e desnudo da corrupção
Veste-se de decência
Que na maioria das vezes é saber dizer não
Este anônimo que não é lobo
É persona non grata em própria jurisdição
É o homem que contradiz Hobbes
Aquele outro Eu que quer fazer bem
Mas, desconhecido de nós mesmos
Torna-se anônimo, por nossa petição
Escondido, espera o momento libertador
Habeas corpus
Do próprio corpo, justa reconstuição
Este homem pede para tomar posse
Animus retinendi possessionem
Posse clandestina até então
Agora: legítima por direito e concessão
Um outro Eu renasce
Absolvido pelo juri da própria consciência
É recebido de braços abertos
Seja bem-vindo
Verdadeiro
Eu mesmo
Guilherme Ferreira
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