Sunday, 30 March 2008

Inspiração


Trecho extraído do filme "A Lenda do Pianista do Mar ( The Legend of 1900)"

Não se sabe quando ela vem
Tampouco quando ela vai embora
Só sei que ela é essencial
Como o sangue que corre em nossas veias
E o cinzel para o ferreiro que a vida forja

Mesmo que seja sazonal
Adoro ser visitado por ela
Imprevisivelmente
Num ímpeto ocasional

Ao menos dela sou transplantado
De um novo ânimo e vigor
Para prosseguir por ela impulsionado

Até que ela volte a bater a minha porta
A trazer novos matizes
Multicolorir a vida
Descobrindo uma nova cor

Poder


Trecho extraído do filme "Escritores da Liberdade (Freedom Writers)"

Amplamente debatido
Desesperadamente disputado
Inúmeras vezes conceituado
Na prática deturpado


O Poder hoje está decapitado
Pois o Poder hoje é ter
Fazer e acontecer
Para aparecer


Corpo sem cabeça
E com o coração infartado
O Poder perdeu a razão
A razão de ser
E sem o coração
Os sentidos para perceber


Que verdadeiramente Poder é Ser
Como a água
Despretensiosa
Inodora
Insípida
Incolor
E talvez por estas naturezas
Ainda insignificantes
O líquido mais poderoso que existe


O poder não está fora
Se Poder é Ser
Ser é Poder
Portanto o Poder está dentro


Para exercer o Poder que vem de dentro
Há de se ter muita coragem
Pois se até o momento temos exercido o Poder de fora
Provavelmente o nosso mundo interno deve estar abandonado
Empoeirado, embrenhado na escuridão e vestido de escura roupagem


Por isso entrar não é tarefa fácil
As janelas estão trancadas
As portas emperradas
As cortinas sujas de ilusão


Fora há um mundo ocupado
Descoberto e dominado
Com o poder do fogo, do ferro e da pólvora
Que constroem e ferem
Assim como o poder da escritura, da voz e da palavra


Terras virgens há de serem descobertas dentro
Com a tenacidade para deparar-se consigo mesmo
Descortinar o novo
Dialogar com o primitivo


Conhecer-se
Descobrir-se
Desbravar-se
Aceitar-se
Encorajar-se
Transformar-se
Revisar-se
Todos são poderes do Ser
De forma contrária, não terminariam com "se"


Não caiamos também na ilusão
Que para Poder Ser há condição
Se isto ou se aquilo acontecer
Pois não há não
Basta Ser para ter o Poder


Por isto este Poder é autêntico
Irrevogável e vitalício
Não há hora marcada
Nem lugar ou tempo ruim
Basta estar vivo
Para exercer o poder de Ser


Ser pequeno como a semente que dá luz ao carvalho
Ser silencioso pois lata cheia não faz barulho
Ser anônimo pois a fama nos cega cada olho


Exercer o poder da insignificância
Ser insignificante
Pois para o insignificante ainda existe a oportunidade
De buscar um novo significado


Significado de um autêntico Ser
Que não vive para Poder
Mas para Poder Ser

Sunday, 16 March 2008

Shanghai


Diferente do Cambodia
Na China
O que se vê de noite
Não se vê de dia
Afinal nem tudo que reluz é ouro

Shangai é China
Mas a China não é Shanghai
Ledo engano

É gigante sim
Impressionante
Mas tem os pés de barro
E uma sombra enorme
Já dizia o Professor Jason

O gigante que se vê é o ouro que reluz
Prédios enormes
Milhares em construção
Tradição: Mandarim em ideogramas
Modernidade: Grifes em monogramas
E o cifrão $ é o monograma da moda

Todavia a sombra é maior que o próprio gigante
Cerca de 70% da população ainda está no campo
Cerca de 40% da população passa grandes dificuldades para não dizer que passa fome
Dizem que vão esperar a torta crescer para depois dividir
A minha dúvida é se haverá fermento suficiente para cozinhar
E a Terra, que é o forno, pode aquecer além do ponto

Por isso, tudo é tão contraditório
Todo mundo quer ser amigo deste gigante
Todo mundo quer falar a mesma língua do gigante
Mas quando o gigante levar um tombo
Tenho dúvidas
Se os amigos estarão por perto para ajudá-lo a levantar
E, principalmente, cuidar dos pés de barro
Para que não sejam substituídos por próteses
Mas que sejam construídos pés verdadeiros
Sobre os quais uma grande nação
Possa caminhar a passos firmes
Com corpo e alma de sua verdadeira tradição
E forte o suficiente para caminhar
Sem tropeçar em sua própria sombra

Cambodia



A vida de cima de um elefante
É diferente
Sorriso de infante
Passos largos e lentos
O Sol a este
Pensamento em revista
A vida em levante


A verdadeira realidade
É singela
É simples
Os pés estão no chão
Com a mente fora da cela


O Cambodia é assim
Sofrido e dolorido
Agora liberto
Todavia ainda reprimido

Todavia eu vi
Que o sorriso não foi preso
A vida não foi exilada
Pois não há pobreza
Na riqueza do homem que tem um sorriso

O Cambodia é assim
Pobre quando se vê só com os olhos
Rico para olhar com o coração
E constatar que a felicidade pode estar logo ali
Para o homem
Que mesmo na dificuldade
Dispõe da riqueza de sorrir

Thursday, 6 March 2008

Imaginação



O que é a imaginação?
Segundo Lauren Bacall, “A imaginação é a pipa mais alta que se pode erguer”.
Para Muhammad Ali,
“O homem que não tem nenhuma imaginação não tem nenhuma asa.”
Pablo Picasso vai além e diz: “Tudo o que você pode imaginar é real”


Ali, Picasso e Bacall se questionaram...
E também pergunto a mim mesmo
Se a tal imaginação é real
É muito improvável que o irreal realmente exista
Tudo é possível
Nada é impossível

Se quem tem asa tem imaginação
Eu ainda estou aprendendo a voar
Ainda não sai do ninho
Por mais que me arrisque algumas vezes
A tombos memoráveis
Mas não páro, continuo sem cessar

A imaginação sendo um par de asas
É como músculos que precisam ser exercitados
Atrofiam, paralisam-se na inércia
Desenvolvem-se, crescem quando excitados

Já que a imaginação é real
Quanto mais vôo, mais real sou
A mesma realeza da águia que de cima tudo vê
Também a realeza do menino, súdito do vento, que empina a pipa
Vê de baixo, pequenino
Que o horizonte, assim como o céu, é infinito

Então vôo, logo existo
Pois pensar não é sinônimo de imaginar
Pensar com a imaginação
É pensar e logo existir
Bastando imaginar para se eternizar

Quero então que os ventos das idéias continuem a bater
Para que eu possa ter a oportunidade de voar
A direção e sentido que for
Para onde ele quer que eu vá

Só não quero brisa fraca
Tempo fechado
Marasmo e friaca

Quero ser biruta
Que funciona quando o vento sopra
Aponta o sentido correto
Rumo certo para o homem que tem asa

Homem que tem asa
Não tem medo de cama
De doença do corpo
Paralisia, frio ou assombração

Homem que tem asa
Voa sem fronteiras
Não nega um mapa
Mas voa, faça chuva, faça sol
Sem medir ou exigir condição

Inspirado na cena acima e no poema abaixo de Ramón Sampedro exibido no filme Mar Adentro de Alejandro Amenábar.

Mar adentro
Ramón Sampedro

Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:

El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en un único deseo:

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.