Sunday 28 June 2009

Horizonte


Centre Pompidou - Paris - 21 de junho de 2009

À vista
Uma linha ao fundo arranha o céu
Divide a terra do firmamento
O infinito do finito se delimita

Ali começa onde o outro termina
Antiga vida dá lugar a outra, nova
O olhar dali não alcança
Há então de se olhar com a imaginação
Visão nua como de criança
Com intrépida esperança

Até que se chegue a este lugar
Caminhada árdua de perseverança
E com pensamentos em cãimbra
Pára-se por um momento
Pois falta fôlego para continuar

Uma nova realidade é assim mesmo
Tão diferente e inusitada
Que é difícil de se acreditar

Guilherme Ferreira

Thursday 25 June 2009

Rue




Paris, 22 de junho de 2009

Ao seguir em frente
Ao caminho que nos leva
À esquerda ou à direita
Inevitavelmente
A escolha está à espreita

Encruzilhada então nos rodeia
Aborda, cerca e interroga
Interpela
Quem fica: roga uma nova rota
Quem foge: se atropela

Uma decisão então
Somente uma
Pavimenta nova rua
Reta ou torta, não importa

Quem porta o passo
E busca o seu próprio espaço
Faz das pedras pavimento
Das pernas com tropeço
O compasso de um recomeço

Guilherme Ferreira

Minute



Londres, 15 de junho de 2009

Em um segundo
Longo ou diminuto
A eternidade galopa
E leva a vida passageira
Em sua carruagem

Sem chofer
Sem redeas
Ou espora
Em um piscar de olhos
Aos trancos e barrancos
Perde-se tambem a estribeira

Ate quando o relogio badala
E um chamado toca como se fala:
Des
Per
Ta
Te!

O chofer entao toma posse das redeas
Calca as esporas que nunca calcou
A carruagem toma novo rumo
Novo passo, ritmo e direcao

Guilherme Ferreira

Saturday 13 June 2009

Perfume



Passou
Um rastro
Deixando uma lembrança
Em um porto
Sem seu consentimento
Ancorou-o

Imaterial como brisa
Passagem sem evidências
Crime sem dolo
Escândalo sem jornal

Memória
É o que resta
Improvável
É o seu retorno

Leve e vagamente
Toma conta este olor inusitado
Que de fato
É doce e inebriante
Mas de certa forma adicto olfato
Não é indolor

Até quando em novo rastro
Arrisca nova passagem
Desatraca neste porto
E liberta o prisioneiro

Ele então não titubeia
Perdoa a sua algoz
Em troca de uma nova pena
Que pode ser perpétua
Ata-se a este doce domínio
Uma mulher
E sua fragrância

Guilherme Ferreira

Vontade


Edvard Munch (Norwegian, 1863-1944). Kiss by the Window, 1892. Oil on canvas.
73 x 92 cm (28 3/4 x 36 1/4 in.). NG.M.02812.
The National Museum of Art, Architecture and Design, Oslo.

Com a vontade de escrever
Nasce a palavra
Sem ela
A alma se cala

Com a vontade de amar
Nasce a alteridade
Sem ela
A solidão se instala

Com a vontade de fazer
Nasce a obra
Sem ela
A vida perece

Com a vontade de ser
Nasce alguém
Sem ela
Ninguém

Com a vontade de viver
Nasce a vida
Sem ela
Não sei

Sem vontade
Não posso nem dizer
Tampouco pensar
Ou me levantar

Com ela
Tudo posso
Desde que a tenha
Ofereça-lhe moradia
Abrindo portas e janelas
Sem medo de sua partida

Guilherme Ferreira

Friday 12 June 2009

Escrever




Sobre o escrever e o viver
Eu tenho muito o que dizer
Pois nem todas as palavras foram ditas
Nem toda vida é finita

Todo escritor é um parteiro das palavras
Que não necessariamente possui diploma
Nem pomposo certificado
Pois o parteiro se faz a cada parto
A cada novo grito de força e esperança
Que dá vida a uma nova criança

Viver não é diferente
Já que vida não possui escola
Pois cada dia tem o encargo de uma lição
Dita ou não dita
Aprendemos
Querendo ou não

Vivo então para escrever
E escrevo para viver
Dou a luz a cada dia
A uma palavra ou a uma idéia
Que torna-se vida
Pelo meu ensaio e erro do cotidiano
Na escrita, na fala ou
Principalmente
Em cada ação

Guilherme Ferreira