Sunday 21 September 2008

Bibliothèque



École des hautes études en sciences sociales - 16/09/2008

Não é a toa
Sabor vem de sapore
Saber de sapere
Ambas palavras de mesma origem no latim
Explicam-me algo que até então era irracional para mim

Não há saber que não é construído com sabor
Assim como não se saboreia a vida sem um pouco de saber

A biblioteca desta forma é um grande centro gastronômico
Lá se encontram todos os ingredientes necessários para uma vida melhor
Todavia os ingredientes precisam de quem os prepare
Corte-os, cozinhe-os, conserve-os
Precisam também de uma panela, fogo e a medida certa
Receita individual que cada chef constrói para si

Na condição de aprendiz de cozinheiro
Visitei a cozinha de grandes chefs
Saboreei ingredientes que não conhecia
Cheiros, texturas, cores, sabores...
Amargo, doce e salgado

O desafio, entretanto, é o que fazer com tantas especiarias
Que não fiquem só conservados na cabeça
Que sejam temperados no coração
E misturados pelas mãos
No caldeirão diário da vida

Guilherme Ferreira

Saturday 20 September 2008

Incógnita


Paris, 12 de setembro de 2008. Incógnita cortando o céu.

À beira do rio
Caminho despretensiosamente
Segundo de Rachmaninov a escutar
Segundo movimento, para variar

Mil pensamentos cruzam a cabeça
Idéias novas e indistintas entrecruzam
Vôos frenéticos, de lá para cá
Provocam brisa fresca

Então sou parado por um pensamento em vermelho
Olho então para o rio que corre em verde
Ao fundo, leve amarelo da famosa igreja me chama a atenção
Em azul o céu me dá um xis de presente

Incógnita cruz cravada no céu límpido
Como que a me alertar
Para que tantos pensamentos?
Para que, a mente, crucificar?

Quando se pensa muito se complica a equação
O xis deixa de ser a única incógnita
Não há aritmética de última geração
Que encontre fácil solução

Então olhei para a outra margem de mim mesmo
Onde o pensamento não tem mandamento
Deixei então a emoção aflorar
E Voilà!
Encontrei a solução

O sentimento não tem a mesma lógica do pensamento
O pensamento às vezes complica e nos crucifica
O sentimento, diferentemente,
É fluido, espontâneo e misterioso
Em sua irracionalidade
Soluciona
Tranqüiliza-nos
Pacifica
E unicamente, como estaca ou cruz
Para sempre, sagradamente
Em nosso espírito se finca

Guilherme Ferreira

Friday 19 September 2008

Ponte Alexandre III



Pont Alexandre III - Paris, 15 de setembro de 2008 (clique para ampliar)

Deleite para os cinco sentidos
Refresco para a memória
Travessia inevitável
Desta ponte que me liga a mim mesmo

Em uma margem
À la droite
Se encontra o meu eu velho
Que insiste na noite

Na outra margem
À la gauche
O eu que nasce
Que busca uma nova roupagem

Passagem longa
Que não acontece do dia para a noite
Mas não importa a duração
Já dizia alguém:
Afinal a jornada é o que é importante aproveitar
O destino final de uma forma ou de outra há de chegar

Então as margens se aproximarão
O Eu I se unirá ao Eu II
E um dia formará o III
Quando não haverá mais ponte
Mas um ser só, em união

Guilherme Ferreira