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Saturday, 29 August 2009

Frugalidade


Chris Jordan - "Cans Seurat"

Um modo de vida frugal
Hoje em dia e adiante
Não parece ser banal

De maneira diferente
O complicado se complica
O simples complexifica
E a gente, onde fica?

Enlata-se
Engarrafa-se
Encaixa-se
Embaraça-se

Todavia e contudo
Viver diferentemente
Não é tão simples assim
Exige tudo e mais nada
E um incomensurável pequeno esforço

Para Desenlatar-se
Desengarrafar-se
Desencaixar-se
Desembaraçar-se
Primeiramente e
Ultimamente

É necessário
Tudo
Mais nada
Contudo
Despertar-se

Guilherme Ferreira

Friday, 21 August 2009

Momento


"There is nothing in this world that does not have a decisive moment" Henri Cartier-Bresson

Momento decisivo
Imediata a mente mente
Intuitivamente
É diferente

Um clique
Uma ficha que cai
Os planetas se alinham
E a visão eclipsada
Desanuvia

Céu claro
Estrelado ou ensolarado
Tábula rasa
Tela em branco
Com pintor a espreita

Basta a primeira pincelada
Um ponto, um rastro ou rabisco
E mais nada

Faz-se temporal com um chuvisco
Mas também uma estrondosa e bela obra-de-arte
Em um ínfimo segundo
Com uma batida do coração

Guilherme Ferreira

Friday, 12 June 2009

Escrever




Sobre o escrever e o viver
Eu tenho muito o que dizer
Pois nem todas as palavras foram ditas
Nem toda vida é finita

Todo escritor é um parteiro das palavras
Que não necessariamente possui diploma
Nem pomposo certificado
Pois o parteiro se faz a cada parto
A cada novo grito de força e esperança
Que dá vida a uma nova criança

Viver não é diferente
Já que vida não possui escola
Pois cada dia tem o encargo de uma lição
Dita ou não dita
Aprendemos
Querendo ou não

Vivo então para escrever
E escrevo para viver
Dou a luz a cada dia
A uma palavra ou a uma idéia
Que torna-se vida
Pelo meu ensaio e erro do cotidiano
Na escrita, na fala ou
Principalmente
Em cada ação

Guilherme Ferreira

Sunday, 31 May 2009

Sentido



O homem na busca de um sentido
Pode perder a direção e a razão
Atropela-se
Pelo caminhão de cada emoção

Sem caminho
Anda em círculos
Pede por orientação
Muitas vezes sem resposta
Pois nem mesmo sabe a pergunta

Busca atalhos
E nesta carreteira
Pavimenta retalhos
Esburacada estrada provisória
Que leva a algum lugar ou a nenhum

Até que pára
Estaciona e pensa
Observa inebriados transeuntes
Que seguem mesma viagem sem destino
E chega a seguinte conclusão

O sentido verdadeiro
Não se trata de uma direção
Esquerda, direita
Para frente ou para trás

Mas parar e dar a preferência
Oferecer passagem
Para que o sentido que vem de dentro
Construa uma nova avenida
Verdadeira mas inacabada
Avenida Vocação

Guilherme Ferreira

Sunday, 3 August 2008

Simplicidade

Gosto muito de música. A língua francesa é como música para os meus ouvidos. Não por acaso, utlimamente, tenho procurado e assistido a tantos filmes franceses. O último, "Ensemble, c'est tout" de Claude Berri me inspirou a pensar sobre a Simplicidade. A estória não tem nada demais, nem super-produção - e aí reside a sua beleza e sua capacidade de tocar a alma da audiência. Retrata a vida de quatro indivíduos isolados que passam a criar conexões entre si, sem passes de mágica e pirotecnia hollywoodiana, e aprendem nas situações mais simples a arte humana da convivência.

Uma reflexão importante a se fazer, ao se constatar que na verdade vivemos em bando - diariamente esbarrando ombros sem perceber que temos em comum a capacidade de conviver e de amar. Todavia, a Simplicidade é um tema muito pretensioso que eu em meu engatinhar não ousarei intentar a escrita.

Por isso, a deixo para um pensador que gosto muito: Rubem Alves. Ele fala sobre Simplicidade e Sabedoria, como sempre, de uma maneira muito simples e palatável. Vejam abaixo, e desde já me classifico no grupo daqueles pássaros, que segundo o autor, voam pela manhã da juventude...Ai ai ai!


Sobre Simplicidade e Sabedoria

Rubem Alves

Pediram-me que escrevesse sobre simplicidade e sabedoria. Aceitei alegremente o convite sabendo que, para que tal pedido me tivesse sido feito, era necessário que eu fosse velho.

Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade. Os jovens são aves que voam pela manhã: seus vôos são flechas em todas as direções. Seus olhos estão fascinados por 10.000 coisas. Querem todas, mas nenhuma lhes dá descanso. Estão sempre prontos a de novo voar. Seu mundo é o mundo da multiplicidade. Eles a amam porque, nas suas cabeças, a multiplicidade é um espaço de liberdade. Com os adultos acontece o contrário. Para eles a multiplicidade é um feitiço que os aprisionou, uma arapuca na qual caíram. Eles a odeiam, mas não sabem como se libertar. Se, para os jovens, a multiplicidade tem o nome de liberdade, para os adultos a multiplicidade tem o nome de dever. Os adultos são pássaros presos nas gaiolas do dever. A cada manhã 10.000 coisas os aguardam com as suas ordens (para isso existem as agendas, lugar onde as 10.000 coisas escrevem as suas ordens!). Se não forem obedecidas haverá punições.

No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o vôo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu vôo pela manhã. Já observaram o vôo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só.

Jesus contava parábolas sobre a simplicidade. Falou sobre um homem que possuía muitas jóias, sem que nenhuma delas o fizesse feliz. Um dia, entretanto, descobriu uma jóia, única, maravilhosa, pela qual se apaixonou. Fez então a troca que lhe trouxe alegria: vendeu as muitas e comprou a única.

Na multiplicidade nos perdemos: ignoramos o nosso desejo. Movemo-nos fascinados pela sedução das 10.000 coisas. Acontece que, como diz o segundo poema do Tao-Te-Ching, “as 10.000 coisas aparecem e desaparecem sem cessar.“ O caminho da multiplicidade é um caminho sem descanso. Cada ponto de chegada é um ponto de partida. Cada reencontro é uma despedida. É um caminho onde não existe casa ou ninho. A última das tentações com que o Diabo tentou o Filho de Deus foi a tentação da multiplicidade: “Levou-o ainda o Diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória e lhe disse: ‘Tudo isso te darei se prostrado me adorares.’“ Mas o que a multiplicidade faz é estilhaçar o coração. O coração que persegue o “muitos“ é um coração fragmentado, sem descanso. Palavras de Jesus: “De que vale ganhar o mundo inteiro e arruinar a vida?“ (Mateus 16.26).

O caminho da ciência e dos saberes é o caminho da multiplicidade. Adverte o escritor sagrado: “Não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne“ (Eclesiastes 12.12). Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de somas sem fim. É um caminho sem descanso para a alma. Não há saber diante do qual o coração possa dizer: “Cheguei, finalmente, ao lar“. Saberes não são lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se construir uma casa. Mas os tijolos, eles mesmos, nada sabem sobre a casa. Os tijolos pertencem à multiplicidade. A casa pertence à simplicidade: uma única coisa.

Diz o Tao-Te-Ching: “Na busca do conhecimento a cada dia se soma uma coisa. Na busca da sabedoria a cada dia se diminui uma coisa.“

Diz T. S. Eliot: “Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?“

Diz Manoel de Barros: “Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar. Sábio é o que adivinha.“

Sabedoria é a arte de degustar. Sobre a sabedoria Nietzsche diz o seguinte: “A palavra grega que designa o sábio se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphus, o homem do gosto mais apurado. “A sabedoria é, assim, a arte de degustar, distinguir, discernir. O homem do saberes, diante da multiplicidade, “precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço.“ Mas o sábio está à procura das “coisas dignas de serem conhecidas“. Imagine um bufê: sobre a mesa enorme da multiplicidade, uma infinidade de pratos. O homem dos saberes, fascinado pelos pratos, se atira sobre eles: quer comer tudo. O sábio, ao contrário, para e pergunta ao seu corpo: “De toda essa multiplicidade, qual é o prato que vai lhe dar prazer e alegria?“ E assim, depois de meditar, escolhe um...

A sabedoria é a arte de reconhecer e degustar a alegria. Nascemos para a alegria. Não só nós. Diz Bachelard que o universo inteiro tem um destino de felicidade.

O Vinícius escreveu um lindo poema com o título de “Resta...“ Já velho, tendo andado pelo mundo da multiplicidade, ele olha para trás e vê o que restou: o que valeu a pena. “Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas...“ “Resta essa capacidade de ternura...“ “Resta esse antigo respeito pela noite...“ “Resta essa vontade de chorar diante da beleza...“. Vinícius vai, assim, contando as vivências que lhe deram alegria. Foram elas que restaram.

As coisas que restam sobrevivem num lugar da alma que se chama saudade. A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovadas foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo. É para isso que necessitamos dos deuses, para que o rio do tempo seja circular: “Lança o teu pão sobre as águas porque depois de muitos dias o encontrarás...“ Oramos para que aquilo que se perdeu no passado nos seja devolvido no futuro. Acho que Deus não se incomodaria se nós o chamássemos de Eterno Retorno: pois é só isso que pedimos dele, que as coisas da saudade retornem.

Ando pelas cavernas da minha memória. Há muitas coisas maravilhosas: cenários, lugares, alguns paradisíacos, outros estranhos e curiosos, viagens, eventos que marcaram o tempo da minha vida, encontros com pessoas notáveis. Mas essas memórias, a despeito do seu tamanho, não me fazem nada. Não sinto vontade de chorar. Não sinto vontade de voltar.

Aí eu consulto o meu bolso da saudade. Lá se encontram pedaços do meu corpo, alegrias. Observo atentamente, e nada encontro que tenha brilho no mundo da multiplicidade. São coisas pequenas, que nem foram notadas por outras pessoas: cenas, quadros: um filho menino empinando uma pipa na praia; noite de insônia e medo num quarto escuro, e do meio da escuridão a voz de um filho que diz: “Papai, eu gosto muito de você!“; filha brincando com uma cachorrinha que já morreu (chorei muito por causa dela, a Flora); menino andando à cavalo, antes do nascer do sol, em meio ao campo perfumado de capim gordura; um velho, fumando cachimbo, contemplando a chuva que cai sobre as plantas e dizendo: “Veja como estão agradecidas!“ Amigos. Memórias de poemas, de estórias, de músicas.

Diz Guimarães Rosa que “felicidade só em raros momentos de distração...“ Certo. Ela vem quando não se espera, em lugares que não se imagina. Dito por Jesus: “É como o vento: sopra onde quer, não sabes donde vem nem para onde vai...“ Sabedoria é a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples. (Concerto para corpo e alma, pg. 09.)

Saturday, 12 January 2008

O porquê deste blog

Um homem não vive sem conceitos
Conceitos fazem parte de nossas vidas
Sejam eles nossos por direito adquirido
Seja por empréstimo de outrem
Seja por imposição de outrem
Conceitos alugados, pagos a prestação
Conceitos engolidos
Conceitos construídos com as próprias mãos

Normalmente publicam os conceitos daqueles homens conceituados
Homens conceituados têm muitos conceitos a ditar
Ganham até muito dinheiro com tais conceitos
Ficam famosos, ganham prêmios por seus conceitos
Aí são considerados conceituados

Não sou um homem conceituado
Muito menos tenho conceitos a ditar
Sou um homem em busca de seus próprios conceitos
Por isso busco um espaço público para tal
Para dividir os meus conceitos
Pois conceito nenhum é absoluto
Conceitos precisam ser compartilhados
Discutidos, colocados à prova, reformulados
Para assim serem legitimamente apropriados

Tenham paciência pois um homem não conceituado muitas vezes erra
Homens não conceituados são humanos
Seus conceitos são humanos, frágeis, suscetíveis...enfim em evolução constante
Caso você seja um homem conceituado fique a vontade para me consertar
Caso não seja, junte-se a mim nesta busca por conceitos que movimentem as nossas vidas
Que movimentem nossas mentes em busca de um pensamento autônomo
Um viver autônomo
Um viver com as próprias pernas
Um viver autêntico
Calejado
Suado
Inquieto
Mas feliz!

Feliz 2008 a todos
Um novo ano
Novo convite para rever os nossos conceitos
Rever o que é Feliz, portanto Felicidade
Rever o que é 2008, 2008 chances desde que um Homem deixou alguns conceitos que esquecemos de praticar
Rever o que é amor, saúde, prosperidade
Conceitos simples, simplórios e banais mas que esquecemos de rever
Reconstruir e
Vivê-los!