Tuesday, 27 January 2009

Bom Tempo



Video: Ah, mas sou eu mesmo!

Foi imprevisível
Como também inevitável
Fui reencontrar um velho amigo
Sabe o Cris?
Aquele com sobrenome Colombo
E antes mesmo do abraço de reencontro
Fui abordado, e entrevistado

A moça me perguntou: que tu fazes aqui tatu?
20 anos de idade regredi - apesar dos cabelos brancos...
Deslocado pelo vento e fora de meu habitat natural
Disse que nunca tinha estado abaixo de zero
Nem visto e saboreado neve na presente vida

Mal sabia o indivíduo que tal demonstração de alegria
Colocava-se fora de hora
Pois enquanto alguns debutantes saltitam
Outros sofrem

Contradições que a vida nos apronta
Mal tempo para todos ao meu redor
Bom tempo para mim, fora...
Mas também em meu interior

Guilherme Ferreira

3Y


Família reunida: Yamandu y Yogurt en Nueva York

De volta a Big Apple
Reencontrei a Nega
Que 6 horas patinou
Um privilégio, digo-lhes de passagem
Pois desistiu do Obama
Não para ver um presidenciável
Nem um patrício montado em uma Mercedes branca
Mas um plebeu para o frio despreparado

Trabalho, Parque e Concerto
Brunch, MOMA e Japonês
Abaixo de zero, muito desconcerto
E "borbulhas" em inglês
Que congelaram imediatamente a cada sopro
Sinal de que bom mesmo é falar português

O português então nos esquentou
E uma grande amiga
De longa data separada por continentes
Em conversas longas e aconchegantes
Do frio me livrou

Tia Su diria, "Ai que frio!", cruzando os braços em doce agonia
Mas digo que de volta não trago frio
Mas muito calor
De um reencontro
Que não durou mais que dois dias
Mas me esquentará
No mínimo
Pelas próximas eras geológicas
E, em Cingapura,
Em suas raras noites frias



Guilherme Ferreira

Thursday, 1 January 2009

Ano Novo

Primeiras palavras escritas do ano
E como em um impulso pela forca do habito
O primeiro dia sempre parece ser sedutor
Pois adentramos os porões de nossa inconsciência
Desencaixotamos desejos e sonhos
E achamos poeira na visão de um futuro cheio de promessas
Um fado promissor
Cujo prefacio ainda não saiu da gaveta

Leio Drummond
que com sabia prescrição
Alerta-me com uma receita de ano novo:
"Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."


E assim observo o meu porão
Acendendo a luz da consciência
Desço pelas escadas com degraus em reforma
Na vastidão deste espaço semiermo
Acho um outro Eu adormecido
Como Drummond alertou
Deitado no chão
Se encontra Guillermo

Cutuco o adormecido
Que desperta de sono profundo
Desconhecendo a sua condição
Com olhos fundos de torpor
E voz embargada pelo desuso
Perguntou:
Onde estou, Quando e Quem sou?

Com a luz que carregava
Iluminei o breu
Achei então outro interruptor
Que longamente não se ligava
Pelo meu outro Eu

Olhei ao meu redor
E em volta do sujeito
Encontro muitas cartas
No total de vinte e sete
Espalhadas
E por longa data abandonadas

Pego então uma por uma
E os títulos se repetem:
" Desejos e Sonhos, Projetos para um Ano Novo"
Na linha de baixo se encontrava a data quando fora escrita
E ao final uma assinatura
Pela firmeza
De alguem que demonstrava comprometimento e determinação

Digo então ao amigo enfermo:
Estas cartas foram escritas por ti
Pois as canetas que deitam-se no chão contigo
Impregnaram a sua mão com tinta
A mesma que agora marca cada pedaço de papel

Onde?
Estas em um porão
Pelo que me parece por um longo tempo
Em minha casa
Presença invisível
Que agora me pegou de supetão

Quando?
Primeiro de Janeiro de Dois Mil e Nove da Era Crista
Se escrevestes uma carta por ano
Deves ter agora vinte e sete anos

Quem?
Chego a uma outra conclusão
Sois no minimo um escritor
De fato e fado
Pois seus escritos são repetitivos
Inspirados e obstinados
Por um mesmo tema: Ano Novo

O homem como se não acreditasse
Levantou-se
E como em jubilo por seus primeiros momentos de vigília
E pela inesperada conscientização
Com novos ares no peito retrucou:

Como que inconscientemente
Em cada ultimo dia do ano
Escrevi estas cartas
Com a ilusão
De que os desejos escritos nelas
Num passe de magica
Viessem a vida por auto-realização

Ao longo dos anos, quanto mais desejos escrevia
Mais percebia que não os realizava
Pois era impeto de primeiro dia
Que ao segundo não se seguia

Entorpecido
Bebi do sonífero da minha própria ilusão
Feito também das tintas que escrevem milhares de intenções no papel
Mas as aprisionam nele
Impedindo-os que se tornem realidade

Dormi então
E agora acordado por ti
Escravo da ilusão que fui
Sou libertado pela luz da sua consciência

Agora entendo
Que as cartas que escrevi em papel
Se empoeiraram e fizeram-me prisioneiro deste porão

Antes imprimisse tais idéias diferentemente
Lembrando-me que Ano Novo acontece no dia-a-dia
Quando nos levantamos diariamente do sono de nosso porão
Escrevendo-os ao semear pacientemente
Os nossos sonhos sob o amanhecer de cada dia

Guilherme Ferreira