Thursday, 1 January 2009

Ano Novo

Primeiras palavras escritas do ano
E como em um impulso pela forca do habito
O primeiro dia sempre parece ser sedutor
Pois adentramos os porões de nossa inconsciência
Desencaixotamos desejos e sonhos
E achamos poeira na visão de um futuro cheio de promessas
Um fado promissor
Cujo prefacio ainda não saiu da gaveta

Leio Drummond
que com sabia prescrição
Alerta-me com uma receita de ano novo:
"Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."


E assim observo o meu porão
Acendendo a luz da consciência
Desço pelas escadas com degraus em reforma
Na vastidão deste espaço semiermo
Acho um outro Eu adormecido
Como Drummond alertou
Deitado no chão
Se encontra Guillermo

Cutuco o adormecido
Que desperta de sono profundo
Desconhecendo a sua condição
Com olhos fundos de torpor
E voz embargada pelo desuso
Perguntou:
Onde estou, Quando e Quem sou?

Com a luz que carregava
Iluminei o breu
Achei então outro interruptor
Que longamente não se ligava
Pelo meu outro Eu

Olhei ao meu redor
E em volta do sujeito
Encontro muitas cartas
No total de vinte e sete
Espalhadas
E por longa data abandonadas

Pego então uma por uma
E os títulos se repetem:
" Desejos e Sonhos, Projetos para um Ano Novo"
Na linha de baixo se encontrava a data quando fora escrita
E ao final uma assinatura
Pela firmeza
De alguem que demonstrava comprometimento e determinação

Digo então ao amigo enfermo:
Estas cartas foram escritas por ti
Pois as canetas que deitam-se no chão contigo
Impregnaram a sua mão com tinta
A mesma que agora marca cada pedaço de papel

Onde?
Estas em um porão
Pelo que me parece por um longo tempo
Em minha casa
Presença invisível
Que agora me pegou de supetão

Quando?
Primeiro de Janeiro de Dois Mil e Nove da Era Crista
Se escrevestes uma carta por ano
Deves ter agora vinte e sete anos

Quem?
Chego a uma outra conclusão
Sois no minimo um escritor
De fato e fado
Pois seus escritos são repetitivos
Inspirados e obstinados
Por um mesmo tema: Ano Novo

O homem como se não acreditasse
Levantou-se
E como em jubilo por seus primeiros momentos de vigília
E pela inesperada conscientização
Com novos ares no peito retrucou:

Como que inconscientemente
Em cada ultimo dia do ano
Escrevi estas cartas
Com a ilusão
De que os desejos escritos nelas
Num passe de magica
Viessem a vida por auto-realização

Ao longo dos anos, quanto mais desejos escrevia
Mais percebia que não os realizava
Pois era impeto de primeiro dia
Que ao segundo não se seguia

Entorpecido
Bebi do sonífero da minha própria ilusão
Feito também das tintas que escrevem milhares de intenções no papel
Mas as aprisionam nele
Impedindo-os que se tornem realidade

Dormi então
E agora acordado por ti
Escravo da ilusão que fui
Sou libertado pela luz da sua consciência

Agora entendo
Que as cartas que escrevi em papel
Se empoeiraram e fizeram-me prisioneiro deste porão

Antes imprimisse tais idéias diferentemente
Lembrando-me que Ano Novo acontece no dia-a-dia
Quando nos levantamos diariamente do sono de nosso porão
Escrevendo-os ao semear pacientemente
Os nossos sonhos sob o amanhecer de cada dia

Guilherme Ferreira

1 comment:

  1. Muito rica e sabia a maneira que foi descrita a energia do Ano novo!
    Me fez Refletir!

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