Saturday, 25 April 2009

Solista



Ser solista exige coragem
Diferente de vestir casaca ou fraque
Postar-se diante de um púlpito ou palco
Verdadeiramente é despir-se de falsa roupagem

Ser solista exige nudez
Deixar a máscara cair
Mostrar desnuda face
Sem medo de chorar ou rir

Ser solista exige solidão
Sem nostalgia ou tristeza
Alegre, estando só ou com gente de montão
Mas nunca em solidão acompanhada

Ser solista exige pés no chão
Sem negar voos do coração
Mas caminhar leve
Em terra firme sem gravitação

Ser solista resumidamente
Exige humildade sem hesitação
Nudez sem medo ou vergonha
Solidão sem isolamento
Caminhar sem estacas no chão

Ultimamente praticar um talento
Exercitar um propósito
Vocação que necessita de mente e corpo sãos
Veículos imprescindíveis
De todo instrumentista

Guilherme Ferreira

Sunday, 19 April 2009

Música


Bobby Mcferin

Dois grandes amigos uma vez me relataram que assistiram a uma performance de Bobby Mcferin ao vivo - confesso e não nego a minha inveja de não ter tido o mesmo privilégio. Deram-me também uma ótima maneira de descrevê-lo: "ele é a própria música encarnada..." Esta experiência, eles também me relataram, os fizeram refletir: "se este homem é a encarnação da música, com tamanha demonstração de talento, que talento podemos encarnar?

Este relato ficou gravado em mim desde então, suscitando-me diariamente este questionamento - qual é o meu talento? E, descobrindo-o, como posso encarná-lo com tanta intensidade e alegria quanto Bobby McFerrin?

A resposta ainda está para ser encontrada. Mas não tenho dúvida de que o seu encontro, ou até mesmo o processo de encontrá-la, será combustível para alimentar a chama eterna que queima escondida dentro de nós, esperando que seja acesa e difundida - a própria felicidade.

Guilherme Ferreira

Oblivion


Rastrelli Cello Quartet - Astor Piazzolla - Oblivion

Quem ainda não bebeu desta água
Ou olvidou-se de tal
Saiba que há males que vêem para bem
Sendo douto ou não
Há venenos que servem de antídotos
E arrisco-me nesta prescrição

Inconsciência
Mente nublada
Esquecimento
Visão eclipsada
Para quem não enxerga
A luz é coisa impensada
E desnecessária

Da consciência
O mesmo posso dizer
Pois quem não a tem
De fato não sabe de sua existência
Supérflua que é

Quem então não sabe
O antídoto não procura
Vive anestesiado
Em eterno eclipse
De sentidos velados
Em pseudotranquilidade

Mas também
Quem bebe desta água
Há de beber seu antídoto um dia
Pois querendo ou não
Consciência não é coisa que se escolhe ter ou não

Ela brota da terra
Como em nosso espírito
De suas profundezas
Como água de uma fonte
Que seus poros devassa
Destemida
Abrindo um curso no chão que não cicatriza
Pois ferida assim
Benéfica
A vida não cauteriza

Ferida que então se vivifica
Torna-se um rio
Pára para um descanso 
Formando um lago
Prossegue viagem
Até chegar ao mar
Onde se dissipa 
Esquecida

Até eu lembrar-me outra vez
Beber deste antídoto
E descobrir que maior que o mar
Reina o oceano

Guilherme Ferreira

Monday, 13 April 2009

Aniversário



Familia reunida em Cingapura - 13 de Abril de 2009

Já faz um tempinho que este espaço está abandonado
Não por descaso ou indolência
Mas por sequestros relâmpago da vida
Que nos rapta o tempo
Saca-nos o crédito que não temos
Endivida-nos conosco mesmos

Pois é, aniversário
Mais um ano para colocar no saco da viola
Deixá-la mais farta, pesada, mas sem pesar
Mais repertório para o violeiro
Que nesta carreira não quer parar

Um novo repente só começou
Novas rimas, novos versos, novos refrões
Não de repente o tempo já passou
Não volta mais
Mas ainda tem muito pela frente
Ainda muito frango caipira com açafrão
Infinitamente

Agradeço ao Criador
Na forma que ele for
Pela viola
O seu saco
As cordas
Que fazem de mim ainda um violeiro
Tocador amador
Sempre alegre com as novas rimas que aparecem pelo caminho
Entusiasmo incessante
De iniciante
Desafinado
Cantor
Trovador
Versador


Guilherme Ferreira