Saturday 31 October 2009

Ode à Elegia


Muro da lamentação - Jerusalém

Começa pequeno com um queixume
Assim como um pingo d'água dá inicio a enxurrada
Uma sílaba revela a palavra dura
Daí a sentença nua e crua se entremeia
Invadindo-nos como um enxame

O canto perde o encanto
A ode dá lugar a elegia
E como num passe de magia
A alegria dá lugar ao pranto

Julho passa e dá lugar a Agosto
O tempo passa rápido em busca do futuro em fuga
O sol se põe a contra-gosto
E o olhar enxerga em claro-escuro

Os joelhos então desconjuntados
Dobram e inclinam-se em lamentação
As mãos se apoiam no muro
A cabeça em direção ao chão

A lamúria emperra na garganta
Um suspiro ensaia o seu concerto
Ladainha desafinada
Que não adianta
Deplora conserto

O coração portanto emuralhado
Clama por uma saída
Busca arrimo das lágrimas
Que causaram sua erosão

O sujeito apurado em perjúrio
Dá-se conta de sua auto-traição
Aponta o dedo-duro a si mesmo
Implorando novo venturo
Derrubando a alvenaria da reclamação

Paredes do lamento caem a terra
Em pedaços de pedra
Sob a qual o homem se aduba
Planta e aterra

Surge uma petição
Em um pequeno papel
Desejo que erige nova muralha
Da confiança construída à granel

Deste muro
Que fora montureira
Renasce o homem
Flor-de-monturo
Sobrenome Ferreira

Guilherme Ferreira

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